VIAGEM AO PODER

Wednesday, December 27, 2006

“….para quem quisesse ler, mas a verdade é que estava proibida.”


De: Joana das Beiras
Para: Minhas amigas do PortugalClub

Olá minhas amigas, …e adultos também, “Olá!”.
Eu andava muito triste, porque não podia contar às minhas amigas o que fazia nestas férias da escola. Como a minha mãe me proibiu de entrar no PortugalClub, eu não sabia o que dizer ou fazer, quando estou em casa e me apetece falar com as minhas amigas da Internet. O pior, era não entender muito bem, porque é que a minha mãe me proibiu de falar ou escrever, para quem quisesse ler, mas a verdade é que estava proibida. E assim as minhas amigas da Internet, não sabiam sequer se eu estava bem.
Insisti com a minha mãe e ela explicou-me que os adultos nem sempre conseguem respeitar as opiniões diferentes das suas. E quando acham que tem razão, mandam-nos calar e não importa porquê. Por isso fica complicado para as crianças entender bem o que se passa. Se os adultos falassem de coisas simples e sem misturar tudo, as crianças podiam entender e ficar a saber mais. Mas não!
…Eles é que sabem, quem não concorda com eles é contra eles e ficam muito zangados. Os mais pequenos são quem ficam sempre a perder. Não é justo sermos sempre nós a perder e a ficar calados. Ao menos não deviam inventar sobre coisas que não sabem. Assim dão maus exemplos às crianças como diz a Fatinha.
Quem manda tem que ouvir os outros para também aprender. Depois de ouvir e pensar nas razões dos outros, é que deviam falar e fazer as coisas certas. Ou aquilo que acham mais certo. Assim não fariam tantas asneiras. Mesmo que seja sem querer.
Agora estou mais bem disposta e já nem preciso de ir ao Psicólogo, que era onde a minha mãe diz que eu tinha de ir para não ficar traumatizada. Eu não sei bem como é, mas ela explicou-me que as pessoas, se ficarem muito tempo sem falar, até desaprendem de comunicar. Deve ser por isso que ela procurou este local da Internet, para eu poder escrever às minhas amigas. Eu por enquanto só tenho amigas.
Fatinha já arranjaste um namorado novo? Falaste que não querias namorar mais com o teu, mas nunca mais disseste nada. E tu Rosinha, sabes de alguma amiga que já saiba namorar? Eu agora só preciso de saber como é.
Neste Natal, vou a casa da minha Avozinha, que é doente e já não consegue falar, nem andar, nem comer e que é preciso carregar com ela até para se lavar. Foi ficando assim aos poucos e agora os meus tios e tias é que tem de fazer o trabalho todo, para ela e para o meu Avô. Ela está sempre deitada ou numa cadeira de rodas e fica com a boca aberta muito tempo e nem sabe engolir. A minha mãe explicou-me que é uma doença que não tem cura e que lhe afecta o cérebro. Diz que é a doença de Alzheimer. Eu fui procurar na Internet, como a minha mãe me disse, e vi que é mais ou menos assim que a minha avó está. Por isso o meu natal talvez seja menos alegre do que o do ano passado, mas eu não me importo porque a minha avó, não tem culpa nenhuma e já está a adoecer há vários anos.
Um grande abraço para todos.

Joana das Beiras

Tuesday, December 26, 2006

"....Para que tudo se encaixe na nossa vida, além do “saber ser” é preciso desenvolver o “saber saber”, de modo a que as pessoas vendo e pensando noutras realidades, possam adoptar um outro “saber fazer”. ..."

Olá amigos

Como não sei o que andam os adultos a dizer das crianças, nem vou tentar adivinhar. A minha mãe diz que a adivinhação dá muito lucro, mas como eu não preciso ainda de muito dinheiro, basta que os meus pais possam ganhar o suficiente para me vestir, comer e estudar, eu já acho que a vida não é tão má. Desde que não fiquemos doentes como a Fatinha esteve, já podemos andar de cara alegre.
Ontem o meu irmão mais velho, que anda na universidade, quando estava a ver as notícias na televisão acerca do trabalho para repor os estragos provocados pela chuva, notou que estavam seis funcionários num local e só dois ou três é que trabalhavam. Disse logo que é por isso, que os senhores que sabem muito, informam que Portugal tem muito baixa produtividade. E que os Portugueses quando estão a trabalhar no estrangeiro, são dos melhores do mundo, só porque estão bem geridos. Deve ser exagero com certeza.
Aí a minha mãe que também sabe muito, comentou que em Portugal durante muitos anos ouve uns senhores que se preocuparam muito connosco, mas que deram demasiada importância ao “saber ser “ e por isso o país ficou parado no tempo. Parece que o importante era saber estar na vida. Aquilo a que uns senhores muito estudiosos chamam de “saber ser”. Assim, ficamos atrasados em relação à Europa pelo menos trinta anos. Eu não entendi, mas ela continuou:
- Para que tudo se encaixe na nossa vida, além do “saber ser” é preciso desenvolver o “saber saber”, de modo a que as pessoas vendo e pensando noutras realidades, possam adoptar um outro “saber fazer”, sempre que for necessário.
E continuou:
-Quando veio a “liberdade”, nós estávamos já tão atrasados que a quantidade de pessoas bem formadas, não chegou para impedir erros como o de acabar com as escolas politécnicas.
Eu não sei o que isso era, mas a minha mãe tentou explicar-me que ela ao ter andado numa dessas escolas, ficou com preparação para “saber fazer”. Só que pouco tempo depois já toda a gente queria ser doutor, para não ter que fazer as coisas mais difíceis e menos vistosas, …disse ela. E para ganhar mais dinheiro do que os outros, …disse eu.
-Esse é que foi o erro. Deu-se demasiada importância ao “saber saber”, e voltou-se a esquecer as outras duas partes.
Voltei a ficar confusa. Ela que tem muita paciência, que até nem parece um adulto, voltou a dar um exemplo.
-Olha, eu no meu trabalho, consegui com muito esforço, manter uma equipe de trabalho unida, esforçada, produtiva e que era muito considerada dentro da empresa. O senhor director, como sabia que outras áreas podiam evoluir no mesmo sentido, contratou uns subdirectores. Só que afinal, essas pessoas não tinham sido formadas naqueles três princípios de que te falei. Pouco tempo depois estavam a tentar mudar a nossa equipe para os mesmos moldes das outras secções. Os métodos não levavam em conta a natureza humana, nem princípios de justiça liberdade e responsabilidade. O resultado é que passamos a trabalhar muito mais, a produzir muito menos e a ficar cansados e doentes. Agora o director nem sabe como resolver.
Por isso é que andam uns senhores a tentar mudar o ensino para ficar ajustado a Bolonha, …que eu também não sei o que é.
Mas a minha mãe foi logo buscar outro exemplo.
-Se eu quando tinha a tua idade não tivesse que ir trabalhar como quase todos os meninos, pois os pais ganhavam muito pouco, havia muita fome, não tinha-mos que vestir e calçar. Faltavam estradas ruas e caminhos. Faltavam pontes, escolas, casas, transportes rápidos e mais baratos. Faltavam os empregos onde se ganhasse com mais justiça. Os hospitais eram muito mal equipados e não tinham pessoal especializado. Se tudo isso fosse um pouco diferente eu tinha continuado a estudar para adquirir aquela parte do “saber saber”. Mas não. Tive que olhar pelo gado. Cozinhar. Cuidar da casa, das roupas e depois ainda ajudar nas tarefas dos adultos, sem sequer poder brincar ou estudar. Deste modo, hoje com quase cinquenta anos, ando na universidade, para ter um canudo que garanta que eu também tenho o “saber saber”, e não fique dependente das asneiras duns tantos espertos, porque puderam beneficiar da democracia e já se esqueceram que há um outro saber, o “saber ser”.
Mas como esta é uma complicação dos adultos, eu já os estou a ouvir que agora não há empregos, que não há casas, que as estradas têm portagens, que os hospitais estão a ser fechados e por aí adiante.
Mas mesmo assim a minha mãe diz que esse adultos ou viviam tão bem que agora tem saudades daquilo que perderam ou são tão limitados que já nem sabem o que lhes aconteceu ontem
.
Eu só sei que o ano passado uma priminha que nasceu e é saudável, ia morrendo na barriga da mãe porque os doutores que trabalhavam na maternidade, não fizeram a sua obrigação e se não fosse outro médico conhecido doutra cidade, ela teria morrido. Só que para isso teve de ir para outro hospital por iniciativa da mãe. Se calhar o governo soube desse caso e dos outros que eu não conheço e mandou fechar esse hospital, onde certos profissionais não se esforçavam o suficiente para os doentes terem que ir aos seus consultórios. Eu já nem sei muito bem de quem é a culpa.
Por hoje chega de conversa da treta.

Joana das Beiras

PS: A Joana das Beiras é uma menina de onze anos e que frequenta o5º ano. Tem muita dificuldade em entender os adultos, mas quer aprender muito mais. Encontrou na Internet a Fatinha Alentejana, que embora sendo mais nova, parece que já tem mais experiência com os adultos. Actualmente está proibida de escrever para o sitio onde encontrou a Fatinha, mas vai tentar deixar aqui as suas cartas.

Monday, December 11, 2006

"Contar Mentiras

A mim, só me apetece contar mentiras. A verdade é que só vemos o que nos convém. Aos saudosos da “outra senhora”, só lhes apetece o regresso ao tempo de antigamente. Pudera. Quem perdeu privilégios, mordomias, status e notoriedade, só pode ter saudades. Por isso vai continuar a contar mentiras. Antes é que era bom. Antes não havia criminalidade, não havia prisões, não havia fome, não havia portagens, havia “missinha” várias vezes ao dia, havia o véu aceite e imposto às mulheres, na confissão o padre exigia saber se o jovem mancebo já se “masturbava”, ou melhor se já se tocava, se fazia aquelas coisas pecaminosas com o corpo. Se se metia com mulheres da má vida, ou “seria da boa vida”, já que das outras não havia? ...etc., etc.
A única solução é contar mentiras, já que a verdade nem sempre agrada. Muito menos a todos. Já alguém se atreveu a fazer a “deslindagem”, da influência que os grupos de pressão, tem sobre a nossa vida por mais insignificantes que possa-mos ser, no quotidiano deste país? Alguém na plena consciência poderá afirmar que o apito dourado e as revelações da “Carolina”, não tem qualquer cabimento? E o TGV? E a OTA? E os negócios com armas, petróleo, tráfico de bens e pessoas, ou até as finanças da Madeira, envolvem ou não, interesses muito poderosos, que fariam corar Madre Teresa de Calcutá?
Só me apetece contar mentiras. Ver e ler, alguns dos comentários, que aqui se fazem, (sectarismo puro e primário), que nem vale a pena repudiar de tão escabrosos, e que mais parece tratar-se da promoção duma qualquer “Bíblia Sagrada”, quando comparada com comentários perfeitamente inócuos acerca da barriga cheia dos Portugueses, e que estes sim, recebem fustigada repulsa, de tão superiores e soberanos comentadores. ...Só me apetece contar mentiras.
É claro que este país tem que mudar muito. É claro que a democracia tem que evoluir. É claro que os Tribunais funcionam mal. É claro que o governo comete erros imperdoáveis, É claro que cidadãos são enganados e injustiçados no país a até no estrangeiro, mas tudo isso acontece porque nós cidadãos nos esquecemos muitas vezes das nossas obrigações. Essas injustiças, são sempre cometidas por cidadãos. Por pessoas que não tiveram o empenho ou a dedicação necessária. Governantes ou não!
Mas também é claro, que os opositores da democracia, são os primeiros a servir-se dela, logo que essa mesma democracia tenta impedi-los de pôr em prática os seus intentos. Aí, a democracia, já não é democrática, já não serve a sociedade. Só me apetece contar mentiras.
Vezes demais ficámos à espera que o “Estado” resolva tudo, a todos. Raramente nos perguntámos o que fizemos além da nossa obrigação. Vezes demais nos queixamos da nossa sorte. Mas é impossível negar que quando o cidadão se empenha, a sua colectividade, a sua rua, o seu local de trabalho, ... enfim, a sociedade, vai reflectir essa influência.
Agora, se vamos continuar a cuidar sempre do nosso umbigo, é certo e sabido, que nenhuma sociedade secreta, ou não, vai ser capaz de nos dar o que quer que seja. É bem melhor continuar a contar mentiras e a falar de Cuba, USA, URSS, Coreias, Arábias ou Brazis, ou dos “Magistrados”, que querem entrar pela ....”Madeira dentro”.
Então é bem melhor fazer como a Fatinha ou as suas amigas, que essas pelo menos tentam não contar mentiras.
Um Bom Natal para “TODOS”, e este desejo é verdadeiro."
PS: Este foi o comentário recente que enviei para publicação no PortugalClub mas que pelos vistos contém pornografia, ofensas graves à religião e vejam só ofende a liberdade e os "costumes", com uso de termos grosseiros contrários à moral de mais de 99% dos Portugueses. Alguém me explique porquê, já que nem sei onde. Pornografia? Onde é que está?
Falta de moral? Mas da parte de quem?
Abuso de liberdade? E quando se faz promoção das ideologias fascistas ou mesmo dos ideais nazis, isso é o quê?
Só me apetece contar mentiras